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Relações: quando o que está em falta somos nós

Tempo de Leitura: 2 min

Porque no passado das nossas infâncias associámos a sobrevivência à repressão de quem realmente somos, acabamos por continuar a reprimir-nos, sem nos darmos conta. Estes padrões formam-se cedo na vida e transformam-se num modelo que se repete ao longo dos anos – e é aqui que reside o grande problema. Na infância, reprimir-nos não foi uma escolha consciente nem uma estratégia deliberada, mas sim um reflexo automático do nosso organismo para nos proteger. E, precisamente por ser inconsciente, torna-se difícil quebrar este mecanismo.

Uma criança que, sempre que expressava tristeza, ouvia “Não chores, isso não é nada”, pode ter aprendido a esconder as suas emoções para evitar ser vista como fraca ou inconveniente. Um menino que gostava de desenhar, mas que só recebia elogios quando jogava futebol, pode ter acabado por abandonar aquilo que realmente o entusiasmava para ser aceite. Uma jovem que cresceu a cuidar dos outros porque os adultos à sua volta estavam emocionalmente indisponíveis pode ter desenvolvido a crença de que o seu valor depende de ser útil, anulando-se no processo.

Em consequência, na vida adulta, fazemos tudo para sermos aceites, moldando-nos às expectativas dos outros. A pessoa que nunca aprendeu a expressar tristeza pode transformar-se num adulto que sente um vazio, mas que se convence de que “não tem razões para estar assim”. O que desistiu de desenhar pode ter seguido uma carreira que não o realiza, sem nunca compreender porquê. Quem aprendeu a cuidar de todos pode sentir-se exausto e ressentido, sem perceber que nunca aprendeu a cuidar de si.

Mas, com o tempo, cresce dentro de nós uma inquietação, uma sensação de vazio. Até que um dia percebemos: o custo de tudo isto é demasiado elevado. Alguma coisa está em falta. E o que falta somos nós.

Ninguém é um “impostor” por ter aprendido a esconder partes de si para sobreviver. Em tempos essa adaptação foi necessária. Mas será que ainda nos serve?

Isto não é um erro nosso nem uma falha de caráter. Apenas aprendemos a esconder as nossas partes para sobrevivermos emocionalmente. Em tempos esta adaptação foi necessária. Mas será que ainda nos serve?

Compreender estas dinâmicas e encontrar caminhos para nos reconectarmos a nós próprios é um processo profundo. A psicoterapia é o espaço seguro para trilhar caminho. Através do autoconhecimento e da exploração das nossas experiências, podemos começar a libertar-nos dos padrões que já não nos servem e, passo a passo, recuperar a nossa autenticidade.

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