É verdadeiramente surpreendente testemunhar como clientes, mesmo após históricos de psicoterapias médias ou longas, encontram resoluções profundas ao iniciar trabalhos psicoterapêuticos em estados modificados de consciência.
Os trabalhos terapêuticos que envolvem imaginação ativa em estados modificados de consciência revelam-se excecionais para aprofundar o insight e libertar cargas emocionais, especialmente quando aliados à conexão com o corpo, uma vez que este tem uma notável capacidade de expressar a verdade.
Imagine-se alguém que, ao fugir de um fogo avassalador, bate acidentalmente com a cabeça num objeto e cai inanimado. Este indivíduo, após o evento traumático, desenvolve crises de pânico e ansiedade frequentes, naquilo que aparenta ser um quadro de Perturbação Aguda de Stress ou Perturbação de Stress Pós Traumático.
Num momento subsequente, no decorrer de uma sessão de psicoterapia, esta situação é revisitada por meio de uma regressão. Ao encorajar o paciente a movimentar os membros inferiores de acordo com a necessidade do corpo durante o trauma (É necessário correr para sobreviver), o cliente toma consciência e sente, no corpo, a urgência de movimentar as pernas.nnEm estados modificados de consciência, o corpo expressa a necessidade de completar ações que deveriam ter sido realizadas, mas não foram.
Num segundo exemplo, uma paciente que, durante uma sessão de regressão, relatou uma experiência de abuso sexual, expressou uma forte necessidade de juntar as pernas. Neste processo, compreendeu que o seu corpo instintivamente procurou sobreviver ao momento, fechando as pernas diante da tentativa de violação. O movimento, realizado durante a regressão, proporcionou à paciente o reconhecimento e a libertação das cargas emocionais associadas a essa experiência traumática. Este passo foi crucial para que ela desbloqueasse o seu processo de cura e transformação, revelando-se como um momento significativo no caminho rumo à sua recuperação.
Chamamos a isto uma “Gestalt inacabada”, um momento em que o paciente necessita concluir o ciclo para alcançar uma resolução autêntica. Este processo de integração plena é essencial para desbloquear as camadas mais profundas do trauma e permitir uma transformação genuína.
Pedro Abranches, Psicoterapeuta Transpessoal