Numa reflexão sobre a busca incessante pela felicidade, confrontamo-nos com a realidade de que, muitas vezes, a nossa mente nos ilude. Persuadimo-nos a perseguir objetivos que acreditamos serem a fonte da felicidade, apenas para descobrir que essas conquistas não proporcionam a satisfação esperada. As intuições sobre o que nos fará sentir melhor frequentemente revelam-se equivocadas. Questionamo-nos: será que mais dinheiro é o caminho para a felicidade? Logo percebemos que, uma vez cobertas as necessidades básicas, o dinheiro não é o catalisador da diferença ou da felicidade. Uma promoção no trabalho, a aquisição de bens materiais ou mesmo o casamento, muitas vezes, não são garantias de uma vida plena e feliz. Este texto propõe uma reflexão sobre a natureza das nossas aspirações, explorando a possibilidade de que, por vezes, ansiamos por coisas que, no fundo, não nos proporcionam verdadeira felicidade.
Num exercício incessante de comparação, medimos constantemente o que temos em relação aos outros. Seja o nosso salário, a nossa aparência ou a felicidade no casamento, até mesmo o número de vezes que temos relações sexuais é sujeito a esta comparação. Mesmo que tenhamos motivos para nos sentirmos satisfeitos com o que possuímos e quem somos, a presença de alguém que está em melhores condições do que nós, pode rapidamente obscurecer essa sensação de contentamento, fazendo-nos sentir inadequados. Este padrão constante de comparação é uma sombra persistente, capaz de ocultar o prazer genuíno pela obtenção das nossas próprias conquistas e alegrias.
Outro desafio surge quando a mente, dada a sua natureza adaptativa, tende a habituar-se ao que inicialmente considerávamos fantástico, transformando-o gradualmente em algo banal. As prioridades e importâncias que atribuímos a determinadas situações ou conquistas podem, ao longo do tempo, perder a sua relevância. O cerne deste problema reside na nossa falta de perceção relativamente a este mesmo fenómeno. Muitas vezes, acreditamos que alcançar aquela promoção desejada, adquirir um carro novo ou concretizar o casamento dos nossos sonhos terá um impacto significativo na nossa felicidade, mas a ciência diz-nos que a verdade não é essa. Os nossos mecanismos internos, enraizados, moldam as nossas crenças de forma subtil e imperceptível, e essa é a verdade.
Mas, podemos reformular as nossas crenças através de mudanças no nosso comportamento, um processo que chamaremos de reconexão a nós mesmos. O primeiro aspeto a considerar é o das relações sociais. Indivíduos mais felizes são notavelmente sociais, dedicam mais tempo a estar com os outros e valorizam as suas interações com os amigos e a família. Embora muitos de nós considerem que esta parte não é assim tão importante, os estudos demonstram precisamente o contrário. Em vez de utilizar o telefone apenas para explorar redes sociais, uma prática mais benéfica seria utilizá-lo para ligar a um amigo do qual gostamos. Esta simples mudança poderá ter um impacto substancial na nossa vida e bem-estar.
Com frequência, caímos numa rotina em que as relações sociais já não nos parecem tão apetecíveis, especialmente quando há muito perdemos o contato com os nossos amigos. Entretanto, é essencial alimentar ativamente estas relações, pois ao fazê-lo relembramos o quão gratificante é partilhar momentos com os outros. A reativação dos laços sociais estimula o nosso sistema interno de reforço, tornando-nos mais propensos a desejar e procurar interações sociais nas próximas ocasiões. É um ciclo benéfico onde o investimento ativo nas relações amplifica continuamente o nosso desejo e apreciação pela convivência social.
Os estudos indicam que uma prática benéfica para o nosso bem-estar é ajudar os outros, envolvendo-nos em boas ações altruístas. Embora muitos acreditem na importância de focar em si mesmos para alcançar a felicidade, a ciência revela que as pessoas mais felizes são, na verdade, aquelas que se dedicam mais aos outros. É natural que uma flor não produza o seu aroma para ser apreciado por si mesma, assim como nós não existimos de fora para dentro. Somos um pouco mais como o olho que observa, mas que não se vê a si mesmo.
Sabia que as pessoas que mais se concentram em si mesmas são, ironicamente, as menos felizes? Ao ficarem enclausuradas dentro de sua própria máquina mental, perdem a conexão essencial ao exterior, aos outros, ao mundo, ao universo. Quando esta ligação essencial ao mundo e aos outros se desfaz, sentimentos depressivos podem surgir.
Iremos experimentar sempre momentos de raiva, medo, tristeza e alegria; isso é inevitável e constitui uma parte intrínseca da condição humana. As nossas emoções desempenham um papel crucial ao nos transmitirem mensagens importantes. Por exemplo, a tristeza pode ser um sinal de que estamos a perder algo significativo na vida, sugerindo a necessidade de fazermos mudanças, encontrarmos novas amizades ou sair mais de casa. Quando nos deparamos com o cansaço, compreendemos que é um sinal indicativo de necessidade de descanso, e, tal como as sensações físicas, as emoções desempenham um papel semelhante. Na próxima vez que a sua tristeza persistir, talvez seja interessante contactar um amigo e partilhar um café, uma ação aparentemente simples, mas com o potencial de fazer toda a diferença.
1 Comments
Cláudia
É bem verdadeiro este texto da busva da felecidade ,na busca da felicidade agora, no hoje. Trabalhamos, esforçamo-nos sempre com o objetivo do amanhã, com a recompensa no futuro. E quando chegamos a esse futuro em que estamos mais maduros mais sabias, descobrimos que toda a energia gasta não serviu de nada. É a tristeza que chega e não a tão desejada felicidade.