A ansiedade, sombra persistente na vida, muitas vezes surge da nossa incapacidade de prever o futuro. Apesar dos avanços, continuamos profetas frágeis. As visões do século XIX para o século XX falharam; computadores, internet, telemóveis, terapias genéticas há pouco eram inimagináveis. No século XXI, esperávamos carros voadores, mas bicicletas e trotinetes parecem melhores soluções. Paradoxalmente, a ânsia de viver antecipando o futuro faz-nos vegetar, zombies numa luta vã pela vida. Morremos adormecidos num sonho, num pesadelo. O homem moderno quer muito mais que sobreviver; deseja viver plenamente, gastar a vida. Usá-la!
A origem da ansiedade, muitas vezes é enraizada na infância e ressoa na ausência do toque tranquilizador dos pais diante do nosso medo. Esta falta de apoio, cristaliza, nas crianças, circuitos neuronais de pânico, moldando respostas ansiosas ao longo da vida como mecanismos de sobrevivência.
Somos seres que percebem o mundo através de “óculos mentais”, lentes que distorcem a realidade. Este filtro, as tais lentes com as quais construímos a realidade ao longo da nossa infância, pode amplificar muito os nossos medos e ansiedades, gerando um ciclo vicioso de preocupações.
Para aliviar esse peso da ansiedade, apresento algumas estratégias simples e eficazes que podem ser utilizadas como mecanismos de copying:
Mastigar Pastilhas Elásticas: Enganar o cérebro com uma ação simulada de comer, ajuda a aliviar a ansiedade, passando a informação ao cérebro de que estamos a comer e então tudo está bem.
Nomear e Descrever a Ansiedade: Ao nomear e descrever a ansiedade, estamos a envolver a parte racional do nosso cérebro, o lado esquerdo, equilibrando as emoções que normalmente residem no hemisfério direito. Isto ajuda-nos a abordar a ansiedade de uma forma mais objetiva e a ativar alguns mecanismos cerebrais que contribuem para o equilíbrio emocional.
Enfrentar o Medo Voluntariamente: Quando decidimos enfrentar estes desafios de frente, acionamos uma poderosa força interna. Nas tropas especiais, esta filosofia materializa-se em treinos intensivos, nos quais os soldados mergulham de cabeça em situações desafiantes. Este processo cria não só resiliência, mas também desencadeia processos mentais que reorganizam a resposta ao medo. Estas experiências fortalecedoras, como simulações realistas de combate, não diminuem apenas a ansiedade, mas transformam o medo numa fonte de força e habilidade, preparando os soldados para enfrentar quaisquer desafios em ambientes críticos.
Observar a Ansiedade em Calma: Observar a ansiedade em estado calmo permite uma perceção mais realista sem as distorções emocionais que muitas vezes a acompanham. A mente, em estado sereno, é capaz de processar conteúdos de forma mais clara, reduzindo a tendência de amplificar os medos e preocupações associados à ansiedade.
Respiração 7/11: Inspirar em 7 segundos e expirar em 11 ativa o sistema nervoso parassimpático, promovendo o relaxamento. Esta ativação contraria o mecanismo ansioso, que geralmente ativa o sistema nervoso simpático. A respiração controlada ajuda a “enganar” o corpo, sinalizando que não há perigo iminente, reduzindo assim a resposta ansiosa.
Atribuir Números à Ansiedade: Avaliar a ansiedade numa escala de 1 a 10 cria uma perceção mais objetiva, permitindo que observemos as emoções com algum distanciamento psicológico. Este afastamento ajuda a analisar a ansiedade sob um ponto de vista racional, o que origina respostas mais controladas e direcionadas. A abordagem proporciona a clareza emocional necessária para lidar melhor com a ansiedade.
Exercício de Alta Intensidade: Desafiar limites através do exercício físico intensivo proporciona uma experiência de empoderamento e reverte a ansiedade. Superamos assim os nossos próprios limites, revertemos o medo e transformamo-lo numa sensação de conquista e fortalecimento, que impactará outras áreas da nossa vida.
Aceitar a Ansiedade: Atribuir um nome à ansiedade e classificá-la com um número relativo à intensidade com que nos toca, ajuda a reestruturar a resposta ao medo, proporcionando uma identidade tangível à ansiedade e permitindo uma avaliação objetiva da mesma. Isto promove um comportamento mais controlado, contribuindo para uma melhor abordagem perante o medo.n
Estas estratégias, integradas na nossa rotina diária, aliviam não apenas a ansiedade imediata, mas contribuem igualmente para uma abordagem mais equilibrada e serena perante a vida. Viver plenamente é mais do que sobreviver, e enfrentar incertezas com resiliência e presença mental e espiritual é a verdadeira essência de uma vida plena.
Pedro Abranches, Psicoterapeuta Transpessoal