Numa dança complexa de emoções e compromissos, as relações amorosas exigem uma atenção delicada para evitar que se transformem em experiências doentias ou tóxicas. Neste intrincado tecido de vínculos, é fundamental reconhecer que as dificuldades não devem ser automaticamente encaradas como razões suficientes para dar por terminada a relação. Em vez disso, é necessário explorar a interseção entre o desafio e a construção de algo duradouro.
Vamos mergulhar nesta reflexão sobre a complexidade das relações, onde a verdadeira essência do amor muitas vezes requer uma compreensão mais profunda e um compromisso renovado.
Dizer adeus a uma ligação não significa, de todo, abandonar os sentimentos que nutrimos pela outra pessoa. Ao contrário, pode implicar desejar sinceramente o melhor para o parceiro, encorajando-o a procurar terapia ou até mesmo a encontrar a felicidade noutra relação.
Assim sendo, apresento abaixo, algumas razões a partir das quais penso que deve ponderar seriamente a sua permanência na relação:
1 – Quando constatamos que o que damos ao outro supera significativamente aquilo que dele recebemos, e que isso se torna uma fonte de esgotamento interminável, então talvez seja o momento de realizar uma avaliação profunda. É como se, num puzzle emocional, cada peça merecesse ser colocada no lugar certo para que o quadro completo reflita não apenas a nossa entrega, mas igualmente a participação equilíbrada do parceiro(a), para que a relação se torne mais saudável e satisfatória.
2- Num vínculo amoroso forte, torna-se vital que ambas as partes não apenas compartilhem, mas também impulsionem os desejos individuais de cada membro do casal. A trajetória de crescimento deve alinhar-se meticulosamente com os critérios mínimos estabelecidos por cada um. Se, no entanto, esta sincronia vital não se manifesta, considerar a possibilidade de seguir em frente pode revelar-se a decisão mais perspicaz. Numa dança de aspirações e compromissos, é fundamental que a harmonia seja uma constante, garantindo não apenas o crescimento conjunto, mas também o respeito e a realização dos anseios individuais.
3- Quando nos deparamos com um relacionamento claramente disfuncional, surge uma questão primordial: existe um verdadeiro amor entre ambos? Se a resposta for afirmativa, a relação tem potencial para uma reconstrução, através da adaptação de compromissos e metas. Em cenários menos favoráveis, a consideração da terapia de casal emerge como uma ferramenta valiosa, proporcionando o tempo necessário para a revitalização da ligação. No entanto, é importante estabelecer fronteiras definidas, não permitindo que a situação se perpetue indefinidamente. Como nos lembra o autor de “Quem Mexeu no Meu Queijo”, abandonar o queijo que não está a cumprir a sua função é a chave para descobrir, de forma rápida, um novo e mais gratificante queijo (metáfora com ratos e os seus queijos). Neste intricado labirinto emocional, a decisão de mudar de parceiro pode desvendar novas e promissoras oportunidades
4- Em resumo, é possível que amar a pessoa não seja, por si só, uma razão suficiente para continuar no relacionamento. Poderá colocar a si mesmo(a) as seguintes questões:
O relacionamento é verdadeiramente saudável?
O relacionamento serve de forma funcional para ambas as partes?
A responsabilidade encontra-se distribuída de forma equilibrada?
Se as respostas a estas indagações são claramente negativas e as tentativas de recuperação do relacionamento se apresentarem constantemente frustradas, talvez seja então o momento de ponderar uma viagem em direção a horizontes mais promissores. E neste contexto, recorde: cada momento que não toma a decisão efetiva de partir, está na realidade a tomar a decisão contrária – a de permanecer no mesmo enredo relacional. Em cada instante de estagnação, reside o poder de escolha e a oportunidade de moldar o próprio destino emocional.
Pedro Abranches, Psicoterapeuta Transpessoal