Skip to content Skip to sidebar Skip to footer

Como não ter medo daquilo que os outros pensam acerca de nós?

Tempo de Leitura: 4 min

Persona é a imagem que apresentamos quando desejamos conquistar a simpatia dos outros. Vamos imaginar, por um momento, que participamos numa festa com a intenção de agradar aos restantes. Procuramos impressionar, no entanto, ao regressarmos a casa, somos invadidos por ressentimentos e raiva, pois acabámos por sentir-nos magoados pelas ações dos outros.

O dilema reside no facto de termos adotado excessivamente a nossa ‘persona’ e nos termos sacrificado demasiado naquela festa.

Por outro lado, reprimimos os nossos agentes internos, os quais poderiam ter-nos protegido do que ocorreu. Desprezámos os nossos instintos, fingindo que estes não existiam, resultando num regresso a casa repleto de revolta e ressentimento.

Esta raiva, esta sombra que surge, é, na realidade, uma parte de nós que é essencial. Precisamos dela, pois se a tivéssemos integrado na nossa personalidade, seguramente o abuso na festa não teria acontecido. E se, em vez de transmitirmos a ideia de que aguentamos tudo, apresentássemos, pelo contrário, uma expressão mais assertiva e determinada? E se utilizássemos estes instintos de maneira correta e firme? Sem dúvida, os outros não menosprezariam a nossa postura.

Talvez nos sintamos moralmente corretos se todos nos apreciarem, evitando assim qualquer tipo de conflito. Procuramos não magoar os sentimentos de ninguém e, consequentemente, mostramo-nos como um saco de pancada perante os outros, acreditando que isso nos faz boas pessoas, mas na realidade não faz.

Aqui, não há uma integração da sombra. O ressentimento surge como uma emoção valiosa porque nos conecta à nossa sombra. Ele revela duas facetas: por um lado, talvez a nossa imaturidade, como exemplificado na reação emocional de um adolescente quando a mãe lhe pede para arrumar o quarto, algo perfeitamente normal. Por outro lado, o ressentimento pode indicar que nos sentimos zangados por sermos oprimidos e abusados, ou ainda que provavelmente há coisas que precisamos de dizer, mas não conseguimos, não estamos dispostos, ou simplesmente não sabemos como expressar.

Para lidarmos com esta situação, é crucial permitir que cresçam as nossas ‘garras’ e alguns ‘dentes’, e estarmos prontos prontos para usá-los. Poderá isto comprometer o nosso código ético e moral? Na realidade, é imperativo termos a capacidade de morder com firmeza quando necessário. É preciso estar disposto a ‘morder’ os outros com força, e é fundamental que eles estejam cientes disso, mesmo que, na maior parte das vezes, não seja necessário.

E existem pessoas mal socializadas que persistirão em tratar-nos de maneira prejudicial, repetidamente, a menos que ergamos uma parede contra elas. Indivíduos ‘bem resolvidos’ não recorrerão a tal comportamento, mas há aqueles cujos limites são ditados pelos outros. Se não estabelecermos fronteiras na nossa vida, corremos o risco de nos tornarmos o ‘bully’ no escritório. Não receberemos reconhecimento pelo nosso trabalho, sem aumentos, enquanto outros se apropriam do mérito que nos é devido. Ao nos esforçarmos para agradar a todos, as coisas raramente tomarão o nosso desejado rumo.

Pode haver uma confusão entre sermos inofensivos e sermos moral ou éticamente corretos. A perspetiva geral de Carl Jung sobre a sombra difere significativamente da visão predominante na sociedade. Jung defende a ideia de que devemos integrar o nosso lado ‘horrível’ para que este esteja disponível quando precisamos dele.

Se nos faltar a capacidade de dizer não às pessoas, estaremos a seguir a corrente. Caso a multidão adote comportamentos verdadeiramente patológicos, não teremos a resistência nem a necessária força de caráter. Se, por acaso, sucumbirmos à patologia da multidão por sermos excessivamente complacentes, benevolentes, com todo o ressentimento que isso acarreta, seremos compelidos a realizar ações que nos enfraquecem e envergonham. É preferível pararmos! Mais vale não seguirmos por esse caminho.

Todos os sistemas se descontrolam se não forem contidos no momento exato em que começam a escapar ao controlo. Em Alternativa, podemos optar por baixar a cabeça e manter o silêncio. Esta pode ser, eventualmente, uma sugestão valiosa, uma vez que não pretendemos criar inimizades desnecessárias e, certamente, não necessitamos de mais conflitos do que os que já enfrentamos.

Já refletiu sobre a possibilidade de estarmos, dia após dia, a vender a nossa alma ao diabo? Vivenciamos tantas situações peculiares no mundo, e é exatamente nesses momentos que a tirania ganha terreno. O motivo pelo qual ela persiste é porque as pessoas sensíveis, muitas vezes, não estão a expressar ou a agir conforme o necessário.

É curioso notar que há mais pessoas sensíveis do que insensíveis. O desafio reside no facto de que, frequentemente, as pessoas sensíveis optam por manter-se excessivamente silenciosas, adotando uma postura ‘bem comportada’. Consideremos, por exemplo, uma situação em que algo corre mal no nosso trabalho (não estou a sugerir imediatamente procurar outro emprego). Contudo, talvez seja prudente começarmos a preparar-nos para uma alternativa profissional, assegurando que a próxima oportunidade seja mais gratificante. Isto porque, se no nosso local de trabalho não conseguirmos expressar a alguém que vá para o diabo, então nunca estaremos verdadeiramente em posição de negociar seja o que for. Manter sempre um plano B é uma estratégia inteligente.”

Dizer a verdade em determinadas circunstâncias pode ser uma verdadeira aventura, sem dúvida. Requer cuidado e preparação. No entanto, pode ser a melhor decisão que já tomámos nas nossas vidas.

É preferível fazê-lo de forma estratégica. Devemos compreender que quanto mais frágeis formos, maior será a probabilidade de sermos tiranizados. E à medida que isso acontece, é provável que despejemos cada vez mais as nossas frustrações no nosso cônjuge e nos nossos filhos. Em situações de tirania, gerir as emoções torna-se uma tarefa árdua. Não é fácil ser alvo de tirania no local de trabalho…

Para sermos verdadeiramente bons, precisamos de ser tão resistentes como uma rocha. Se aspiramos ao bem, então é necessário tornarmo-nos parte dele. Somos substancialmente mais fortes do que imaginamos, e é imperativo sermos verdadeiramente fortes para salvaguardar o nosso território, a nossa opinião, o direito à verdade e à vida, assim como para preservar a nossa vontade e o bem-estar social e individual.

Deixe-nos o seu comentário