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Como dizer “não” sem se sentir culpado

Tempo de Leitura: 4 min

Para muitos de nós, dizer não é sinônimo de falta de educação. O problema é que mais tarde podemos arrepender-nos de termos sido demasiado permissivos, e acabamos por ficar em stress, irritados connosco ou até sentindo-nos auto-abusados. Este problema afeta muitas pessoas, especialmente aquelas que são tímidas. Se desejamos alcançar grandes metas nas nossas vidas, é crucial tornarmo-nos proficientes a dizer não. Steve Jobs, por exemplo, era reconhecido pela sua frontalidade no que respeita à recusa.

É através da palavra não que conseguimos selecionar e concentrar-nos no que verdadeiramente importa nas nossas vidas. Na realidade, se não priorizarmos a nossa vida, alguém externo tomará decisões prioritárias por nós. Devemos recordar, a palavra “não” é constituída apenas por três letras: “N, A, O”.

Uma estratégia que facilita a recusa é simplesmente dizer não sem nos justificarmos. Quanto mais nos justificarmos, mais o nosso interlocutor tentará desmontar os nossos argumentos, especialmente se este for uma pessoa dominante. Tenha cuidado.

Se o nosso não tiver que ser muito justificado, arriscamo-nos a transmitir aos outros a ideia de que somos inseguros, e isso por vezes não é bom, sobretudo em contexto profissional. Pretendemos portanto ser firmes nas nossas decisões e permanecer nelas.

E poderemos fazê-lo de modo educado e cordial. Assim, em tom meigo e simpático, poderíamos dizer apenas o seguinte: “Agradeço por se ter lembrado de mim, mas, atualmente, tenho vários assuntos pessoais em mãos, por isso, vou mesmo recusar. A partir daqui, não são necessárias mais justificações. Se ainda assim o nosso interlocutor insistir, podemos devolver um sorriso silencioso, e isso provavelmente fá-lo-á recuar.

É importante não nos sentirmos obrigados a justificar as nossas decisões, uma vez que não é bom hábito ter que apresentar desculpas para o fazer. E se o fizermos, apenas evidenciamos mais as nossas inseguranças. Se nos depararmos com uma pessoa abusiva do outro lado, ela procurará aproveitar-se disso. E a insegurança não é a energia que desejamos transmitir a este tipo de pessoas. Pretendemos, sim, ser firmes nas nossas decisões e permanecer nelas. Quanto mais desculpas
dermos para explicar o não, maior será a probabilidade de o nosso interlocutor procurar desmontar os argumentos que apresentámos.

Proceder desta forma pode parecer estranho no início, mas é uma estranheza semelhante àquela que experienciamos ao andar de bicicleta pela primeira vez. À medida que praticamos mais e mais, torna-se cada vez mais natural dizermos não quando realmente queremos fazê-lo

É igualmente certo que, ao recusarmos os pedidos dos outros, estamos a garantir que não cultivaremos ressentimentos no futuro. Por outro lado, se concordarmos com algo que, na realidade, preferíamos recusar, o ressentimento tenderá a surgir, podendo comprometer a durabilidade da relação.

Eventualmente, ao dizermos não, poderemos estar de certa forma a auxiliar o outro a médio e a longo prazo. Na verdade estaremos a orientar indiretamente o nosso interlocutor na busca por outro alguém mais comprometido, e essa pequena diferença é crucial. Se eventualmente concordarmos com algo que não queremos fazer, como será a qualidade da nossa presença ou da nossa ajuda? E como será o comprometimento com o compromisso que assumimos? Muitas vezes acabamos por concordar, e à última da hora inventamos aquela desculpa esfarrapada, não é? Ser honesto para com os outros é também uma questão de respeito para com eles. Afinal de contas quem é que gosta de ser ajudado por alguém contrariado?

Aceitar a verdade pode parecer difícil no início, mas esta abordagem transparente é a que efetivamente resolve questões a médio e longo prazo. Ao nos comprometermos excessivamente com os outros, acabamos sobrecarregados, dificultando a preparação adequada para todas as tarefas por nós assumidas. Porventura, alguns desses compromissos podem não se desenrolar conforme o planeado, e, com sorte ou azar, poderemos eventualmente entrar em burnout, se as situações forem continuadas como tantas vezes se sucede em contextos profissionais.

Uma maneira mais suave de recusar é dizer não, mas ao mesmo tempo sugerir uma alternativa ao nosso interlocutor. Por exemplo, podemos dizer: “Não posso ir levantar a tua encomenda, mas talvez possas utilizar o serviço de entregas dos CTT. Devemos ser firmes, sinceros, educados e, ao mesmo tempo, apresentar uma alternativa ao nosso interlocutor. Lembre-se, você pode sugerir uma alternativa, mas não é obrigado a fazê-lo. Se, inicialmente, recusarmos e, mais tarde, acabarmos por concordar, estaremos, essencialmente, a transmitir uma imagem de falta de assertividade e insegurança aos outros. Esta situação pode prejudicar a realização dos nossos objetivos, especialmente em contextos profissionais.

Se concordarmos sempre com os outros, é possível que esses outros nos tomem como “bananas”. Mais tarde, naturalmente vamo-nos queixar que nos tratam com pouco respeito, mas na realidade fomos nós que apontámos o caminho. Precisamos de compreender que ao dizermos sim sem vontade de o fazer, estamos na realidade a dizer não a nós próprios e às nossas prioridades. E, atenção, não se sinta culpado por dizer não, porque há muito boas pessoas que não se sentirão culpadas se abusarem de si.

Quando não recusamos nada e assumimos este papel de ‘gajos fixes (mas repletos de ressentimentos e pouca honestidade para connosco e os outros), acabamos por pagar um preço mais tarde, enfrentando uma série de problemas. É importante compreender que a generosidade deixa de ser verdadeira quando ultrapassa certos limites. Não há generosidade sem limites, pois a generosidade ilimitada torna-se um autossacrifício que, invariavelmente, termina mal.

É claro que, por vezes, podemos concordar mesmo quando não nos apetece, especialmente se estivermos a considerar uma oportunidade de trabalho ou algo de grande importância, e isso é compreensível. Todas as regras têm exceções.

A honestidade para com os outros e a integridade para connosco são essenciais. Por vezes, é necessário sermos firmes para sermos verdadeiramente bons, enquanto o oposto, ser excessivamente complacente, pode levar-nos a adotar uma postura demasiado rígida, o que não é bem aceite pelos outros.

Recorde sempre, saber dizer não significa que é você o dono das suas decisões. E é fácil recusar, porque, afinal de contas, a palavra não é muito fácil de pronunciar. Repare, é composta por apenas três letras: “N”, “A”, “O”.

Pedro Abranches, Psicoterapeuta Transpessoal

1 Comments

  • Carla
    Posted 25 de Abril, 2024 at 08:37

    Exatamente um dos aspetos que ando a treinar na minha vida. Já fui “abusada” muitas vezes. Umas por esperar um reconhecimento que nunca vem, outras por querer ajudar amigos que afinal são da onça. Vou aplicar algumas destas dicas e crescer!!!!!

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