A Importância da Saúde Mental: muitas vezes, recebo clientes que solicitam estratégias para enfrentarem os seus pensamentos, lidarem com situações difíceis nas suas vidas, ou técnicas para melhorarem a qualidade do seu sono, entre outros.
Frequentemente ouço a afirmação: “Já experimentei psicologia, mas isso não funciona.” Assim, muitos acabam por procurar abordagens alternativas.
Pode parecer estranho ouvir o termo “sessões de psicologia”, visto que na instituição de onde venho só conheço o conceito de psicoterapia.
Fico perplexo com a visão redutora que muitos têm acerca do papel da psicoterapia. Este conceito é muitas vezes moldado por experiências anteriores, nas quais os clientes entenderam que a função do psicoterapeuta se limita a ouvir. E, de facto, parece que, após essas experiências, o estado emocional se mantém inalterado.
Existem pessoas que trazem consigo processos que se arrastam por dois ou mais anos, sentindo-se estagnadas a partir de determinado ponto. Durante as sessões, observo-as desprovidas de expectativas de progresso, como se repetissem a reflexão da sua experiência anterior. A psicoterapia torna-se um murro de lamentações, onde despejamos o nosso conteúdo emocional (o que é necessário), mas sem a crença de que algo efetivamente mudará.
Contudo, essa não é de todo a minha experiência enquanto psicoterapeuta transpessoal.
Na minha perspectiva, a psicoterapia também serve para fornecer estratégias, ou mecanismos de coping, para lidarmos com os nossos pensamentos ou gerirmos situações complicadas. Mas, acima de tudo, e muito mais do que um simples “chapéu de chuva psicológico”, a terapia proporciona uma estação primaveril, em contraste com o inverno psicológico, que limita a nossa autenticidade.
Trata-se de uma transformação interna tão profunda que toda a realidade à nossa volta se altera em consequência. Aquilo que outrora era negativo passa a ser apenas “o que é”, deixando de nos afetar.
Um grupo de pessoas, anteriormente percecionadas como ameaçadoras, pode agora ser visto como uma oportunidade agradável para socializar e criar novas amizades.
Um trabalho considerado um stress de vida ou morte passa a ser frequentemente visto como “é apenas trabalho”.
A frase “não consigo desligar” transforma-se em “consigo desligar do trabalho e das preocupações, mesmo sem perceber como”.
Os clientes também trazem questões como “Quero aprender estratégias para ser melhor no meu trabalho e progredir na hierarquia”. No decorrer da terapia, percebem que, na verdade, inconscientemente, apenas desejam ser valorizados – o que, no fundo, significa serem amados. Esta necessidade muitas vezes relaciona-se com a falta de amor que experienciaram ou não souberam receber das suas mães durante a infância.
Outros trazem dilemas como “Não consigo desligar daquele namorado, sinto saudades dele, mas ele rejeita-me.” Compreendem mais tarde que a relação de dependência que tiveram com os pais não foi saudável. Assim, continuam à procura do colo maternal ou paterno nos braços dos namorados, sem que isso resulte, repetindo um padrão. A dificuldade em deixar ir o namorado surge da dependência emocional que têm dele. Normalmente, o caminho para a resolução passa pela reparação das relações de vinculação com os pais.
A transformação costuma ser rápida. Não é raro que os clientes sintam os efeitos das sessões logo na primeira consulta. Contudo, é claro que não se altera, em dois dias, o padrão de comportamento enraizado ao longo da infância e adolescência.
Muitas pessoas não percebem que a mudança do ser humano ocorre dentro de relações. Desde a interação com a mãe e o pai, passando pelos amigos e a escola, até à relação com a sociedade. É precisamente na relação com o terapeuta que conseguimos crescer e reestruturar os nossos padrões erróneos.
E é a partir da crença “Eu consigo sozinho” que muitos tentam enfrentar os seus medos e anseios por conta própria, mas isso não é suficiente. O problema fundamental é que, na infância, se habituaram a não contar com a presença dos pais e agora anseiam por esse mesmo cenário. “Eu sou o meu próprio psicólogo”, afirmam, mas no fundo, essas pessoas precisam de aprender a receber, a sentir que merecem, e a confiar no apoio de um cuidador. Essa aprendizagem acontece no contexto de uma relação segura que se estabelece com o terapeuta.
Geralmente, as mudanças que ocorrem no âmbito psicoterapêutico superam as expectativas dos clientes e, sobretudo, ocorrem de uma forma totalmente inesperada.
Alguns clientes reportam sentir-se mais elevados, como se tivessem crescido fisicamente após as sessões. Quando crescemos emocionalmente, os nossos problemas parecem pequeninos, reduzindo-se de forma significativa às suas verdadeiras proporções.
Em conclusão, a psicoterapia não se trata apenas de um espaço de descarregar sentimentos, mas sim de um processo de transformação profunda e relacional. É um espaço de acolhimento e de segurança, onde podemos revisitar experiências passadas, aprender a confiar e, acima de tudo, redescobrir a nossa autenticidade. Quando conseguimos integrar essas mudanças, a nossa relação com o mundo exterior muda drasticamente, permitindo-nos viver de forma mais plena e enriquecedora. A evolução emocional, uma vez iniciada, transforma não apenas a percepção que temos de nós mesmos, mas também a forma como vemos e interagimos com o mundo ao nosso redor.
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Cláudia
Vontade de experimentar